A vida invisível das trabalhadoras domésticas migrantes no Brasil

(Foto: ONU Mulheres Brasil / Talita Carvalho)

Elas estão ali, mas quase ninguém vê

Todo dia, bem cedo, tem mulher saindo de casa para cuidar da casa dos outros. Muitas vêm de longe... do Haiti, da Venezuela, da Bolívia. Algumas deixaram filhos com vizinhos, outras cruzaram fronteiras sem saber exatamente o que iam encontrar. Chegam ao Brasil com esperança, mas quase sempre encontram um caminho difícil.

Trabalham como domésticas: limpam, cozinham, cuidam de crianças e de idosos. Fazem isso com dignidade, mesmo quando não recebem o mesmo em troca. Muitas nem sabem que têm direito a férias, a carteira assinada, ao décimo terceiro. Outras até sabem, mas o medo de perder o emprego ou de serem denunciadas como imigrantes “ilegais” as faz aceitar o pouco que oferecem.

Hoje, no Brasil, são mais de 6 milhões de trabalhadoras domésticas. Um quarto delas está na informalidade... sem registro, sem direitos. Isso dá mais de 1,2 milhão de mulheres. E entre elas, a maioria é negra. As migrantes e refugiadas nem aparecem nos números oficiais, como se nem existissem.

Em 2015, uma lei foi criada para tentar mudar isso. Ela garantiu jornada de trabalho, FGTS, adicional noturno. Mas na prática, pouca coisa mudou. Quatro em cada seis trabalhadoras domésticas continuam sem registro em carteira. As que conseguem trabalho formal ganham, em média, R$ 930 por mês. As informais ganham ainda menos. E se forem negras, menos ainda.

Luiza Batista, da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, conta que já viu casos absurdos. Mulheres filipinas trazidas para São Paulo com promessa de emprego, que acabaram presas dentro de casa, trabalhando o dia inteiro, sem poder sair. E isso também já aconteceu com haitianas, venezuelanas, bolivianas.

É difícil ouvir essas histórias e não se perguntar: como é que isso ainda acontece?

A resposta é simples e dura: acontece porque a sociedade inteira se acostumou a não olhar. A achar que esse tipo de trabalho “é assim mesmo”. Que quem vem de fora tem que aceitar o que tiver. Que ser empregada doméstica é quase um favor.

Mas não é. É trabalho. E todo trabalho merece respeito, direito e salário justo.

A verdade é que essas mulheres estão por toda parte — nos ônibus de manhã cedo, nos mercados do fim do dia, nas praças com as crianças que cuidam. Estão aqui. Ajudando a manter tudo de pé. Só falta que a gente, como sociedade, finalmente enxergue isso.

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